Estudar Filosofia e formar um time com recursos baseados em inteligência artificial são algumas das recomendações pensadas a partir do SXSW para incorporar as novas tecnologias de maneira inteligente no seu trabalho.
Recebi uma sugestão de artigo relacionada a um evento sobre o qual vocês devem ter visto muitas coisas nas últimas semanas: o SXSW (South by Southwest). Queriam que eu citasse algumas tendências que foram pauta do festival em Austin, nos Estados Unidos, e que são importantes para o desenvolvimento de jovens.
Antes de continuar, se você não acompanhou, o evento tem como foco a inovação e o bacana é que ele traz um pouco de tudo: filmes, negócios, música e, claro, tecnologia!
Eu poderia resumir essa “lista de tendências” a uma só linha e recomendar que todo mundo, independentemente da sua formação e da sua vida profissional, invista na inteligência artificial. Várias palestras e entrevistas debateram esse tema das mais diferentes formas. Entre elas, a aplicação na área da saúde, o uso da ferramenta para lidar com os desafios climáticos, o potencial da tecnologia para estimular brainstorms…
Mas, na verdade, o que mais me chamou a atenção não foi só essa dupla de palavras e as suas múltiplas possibilidades. O que me saltou aos olhos foi quantos especialistas comentaram sobre a importância de não tirarmos a nossa humanidade dessa história. De como, na verdade, precisamos nos tornar aliados e não combatentes da IA, de como é importante estudar Ciências Sociais e Humanas para saber lidar com a tecnologia, de como devemos tomar cuidado para não reproduzir nossa relação com as máquinas no nosso trato com os seres humanos.
Abaixo, explico melhor esses pontos com base em alguns conteúdos do SXSW que gostaria de recomendar para vocês:
1. Não se relacione com as pessoas da mesma forma que você lida com a tecnologia
Em sua palestra no SXSW muito comentada na internet, a psicoterapeuta Esther Perel comentou o quanto o nosso relacionamento com os aparatos tecnológicos parece estar condicionando a nossa relação com quem está à nossa volta. Nós precisamos de uma informação e damos uma “googlada” rápida para encontrar a resposta. Nós não sabemos o que ver em uma sexta à noite e a Netflix dá uma sugestão. Nós temos uma dúvida e perguntamos ao ChatGPT.
Ou seja, nós temos respostas e recebemos recomendações para quase tudo e de forma instantânea. Só que não dá para esperar o mesmo do ser humano.
Por isso, algumas perguntas que foram surgindo na minha cabeça enquanto assistia ao vídeo:
– Será que estamos nos relacionando com as pessoas da mesma forma que nos relacionamos com a tecnologia?
– Será que estamos acostumados com respostas rápidas e nos tornamos impacientes com as pessoas?
– Será que estamos fazendo bom uso de ferramentas como o ChatGPT? Ou será que estamos alimentando uma crença inconsciente de que basta perguntar para uma máquina e teremos uma resposta para tudo?
– Será que essa forma de usar a IA vai nos despreparar para as incertezas do mundo em constante transformação?
Pensar sobre todas essas questões me parece um bom começo para entender em que ponto estamos na nossa relação com a tecnologia e com as pessoas. Mais importante do que isso, o que precisamos melhorar nessa dinâmica.
Leia mais: Você sabe fazer boas perguntas?
2. Forme um time com a inteligência artificial no seu trabalho
Em vez de enxergar essa tecnologia como concorrente, veja nela a possibilidade de ampliar as suas competências e os seus potenciais. Junte-se a ela e invista nesse “trabalho em equipe”.
Segundo Kevin Kelly, fundador da revista de tecnologia Wired: “o melhor jogador de xadrez não é uma IA, não é o mestre enxadrista, é a equipe formada pela IA e o ser humano. Os melhores diagnósticos não serão dados só pela IA, ou só pelo médico, mas pela equipe de IA e médico. O futuro é a coexistência, essa parceria entre IA e humanos”.
3. Atualize seu conhecimento constantemente para atuar em parceria com a IA
Em sua palestra no SXSW, Ian Beacraft, CEO da Signal and Cipher, tranquilizou a plateia dizendo que não vamos perder nossos empregos para a inteligência artificial. No entanto, talvez possamos perder oportunidades por não sabermos utilizar esse recurso.
Por isso, Amy Webb, futurista e CEO do Future Today Institute, explicou em outra palestra a importância do desenvolvimento contínuo não só de nós, adultos, mas das crianças. Todos nós precisamos aprender e reaprender a utilizar essas ferramentas de forma criativa e eficiente, para além de uma consulta para obter uma resposta rápida de um buscador.
Aliás, para ter ideias de como explorar esse potencial, vale a pena conferir a entrevista de Greg Brockman, CEO da OpenAI, comentando alguns usos do ChatGPT que o surpreenderam.
4. Estude Filosofia e História para saber usar melhor a tecnologia
Pode soar estranho, mas Chris Hyams, CEO da plataforma de RH Indeed, disse que costuma fazer essa recomendação para jovens que vêm se aconselhar com ele. Suas exatas palavras foram: “quando eu falo com pessoas que estão estudando Ciência da Computação e elas me perguntam ‘o que devo estudar e quais aulas devo fazer?’, minha resposta é sempre ‘você deve fazer Filosofia, você deve fazer aula de poesia, você deve estudar História’. Porque o problema é que temos muitos cientistas da computação que não pensam nessas outras coisas”.
Em entrevista a jornalista Ellen McGirt, Hyams explicou que o fato dele ter estudado outros assuntos o ajudou a enxergar as questões humanas que estão por trás de todos os desafios que enfrentamos. E isso faz toda a diferença porque, no fim do dia, a tecnologia está à nossa disposição como ferramenta para solucionar questões que são essencialmente humanas. Para isso, não basta o conhecimento técnico sobre computação, é necessário utilizar outros saberes.
0 comentários