Toda boa liderança está ciente dos benefícios da diversidade nas empresas. Afinal, ela é um fator essencial em todo ambiente de inovação e, quando presente, é capaz de até mesmo aumentar os ganhos financeiros.
Entretanto, elaborar políticas de incentivo à diversidade pode ser mais difícil do que se pensa. Um dos principais desafios da área de recrutamento e seleção, por exemplo, é mudar a mentalidade da liderança, que não está preparada para se despir de velhas práticas e promover processos seletivos mais plurais.
Como consequência, muitas organizações optam por criar um setor específico para contornar essa situação – a área de Diversidade e Inclusão (D&I). Apesar de já ser um avanço, não é uma solução permanente.
A elaboração de qualquer tipo de política corporativa deve ser acompanhada por pesquisas, que irão apontar onde a empresa errou – e quais são os caminhos para solucionar esses erros. Entretanto, isso não é algo feito com regularidade, conforme aponta um estudo realizado pela consultoria Kisi.
Dados sobre a diversidade nas empresas
Em seu levantamento, a Kisi obteve quatro importantes dados sobre a diversidade nas empresas:
- Equipes que possuem um alto nível de diversidade apresentaram um aumento de 19% nos lucros provenientes da inovação;
- Para cada 100 homens que são alocados para cargos de liderança, apenas 72 mulheres são promovidas ou contratadas;
- Cerca de 64% dos trabalhadores já presenciaram ou sofreram discriminação por conta da idade;
- Empresas de alta performance possuem 37% mais probabilidade de contratar pessoas com algum tipo de deficiência;
- Ambientes de trabalho que aceitam, respeitam e integram a comunidade LGBTQIA+ apresentam maior bem-estar, maior satisfação com o emprego e melhores relacionamento entre colegas de trabalho e líderes.
Esse último ponto é de extrema importância para as empresas. De acordo com a pesquisa Carreira dos Sonhos 2020, realizada pela Cia de Talentos, investir na diversidade realmente é uma forma de atrair talentos.
Quando a pergunta é sobre qual causa social os respondentes gostariam de ver a empresa promovendo, a diversidade (igualdade racial e de gênero, inclusão de PcDs e Direitos LGBTQIA+) foi a mais escolhida entre jovens e a média gestão.
Não podemos esquecer que jovens são justamente os que ocupam a maior parte dos cargos operacionais. Portanto, são esses talentos os responsáveis por gerar valor para a empresa.
Diversidade e inovação
Qual tipo de retorno podemos esperar das políticas de diversidade nas empresas? A professora da Columbia Business School, Katherine Phillips, em entrevista para a Forbes, responde essa pergunta. Segundo ela, um ambiente diverso gera mais estímulos positivos para nosso cérebro. Isso é responsável por aumentar nossa capacidade cognitiva e bem-estar. Phillips é autora de uma pesquisa publicada no periódico científico Scientific American. Em seu estudo, a especialista analisa como um ambiente diverso deixa profissionais mais inteligentes.
O motivo para isso acontecer é bem simples: uma equipe em que todas as pessoas pensam igual sempre chega nas mesmas conclusões. Quando pessoas com experiências e repertórios culturais diferentes se encontram, o resultado é outro. Essas equipes são capazes de chegar a conclusões inéditas, de forma mais eficiente e ágil.
Diversidade ou inclusão?
Muitas vezes consideradas sinônimos, diversidade e inclusão possuem significados bem diferentes.
“Diversidade” é quando o perfil do público interno de uma companhia possui uma ampla representação demográfica. Em organizações assim, é possível achar profissionais membros de minorias representativas em uma proporção similar à de homens brancos – que são maioria no mercado de trabalho qualificado, conforme aponta um levantamento do G1 com base em dados do Ministério do Trabalho.
O incentivo à diversidade pode ser feito de diversas formas, mas uma das abordagens mais utilizadas consiste em criar oportunidades que se encaixam no perfil desses profissionais.
Por outro lado, o termo “inclusão” vai muito além. Uma empresa inclusiva reconhece que profissionais, principalmente os pertencentes a minorias representativas, não possuem as mesmas oportunidades de formação e desenvolvimento profissional. Por isso, optam por criar mecanismos que garantam que todas as pessoas tenham acesso às mesmas oportunidades de ascensão profissional.
Os quatro tipos de diversidade nas empresas
A Kisi também elencou os quatro tipos de diversidade nas empresas que precisam estar presentes no ambiente de trabalho. São eles:
De etnia/raça
O termo “etnia” ou “raça” pode parecer confuso. Mas precisamos ser claros quanto a isso: não estamos falando sobre características biológicas, mas sobre o contexto cultural e histórico de um indivíduo.
Um estudo realizado em 2015 pela consultoria McKinsey mostrou que, entre mais de 300 empresas públicas dos Estados Unidos, aquelas mais diversas racialmente também eram 35% mais propensas a ter maiores retornos financeiros.
Não apenas as equipes etnicamente diversificadas são mais lucrativas, mas lideranças etnicamente diversas também trazem benefícios. As empresas que declararam ter diversidade acima da média em suas equipes de gestão relataram que 45% de sua receita total veio da inovação, enquanto as empresas com pontuações de diversidade abaixo da média relataram apenas que 26% de seu lucro bruto foi oriundo do processo inovativo.
Empresas mais diversas também demonstram ser capazes de evoluir e se adaptar às demandas dos consumidores de forma mais eficiente.
De gênero
Semelhante à disparidade na diversidade étnica e racial, o problema com a igualdade de gênero geralmente começa nos processos de admissão e contratação de nível médio. Para as mulheres, a ascensão na hierarquia corporativa para uma posição de liderança geralmente é interrompida nessa etapa precoce em favor de seus colegas homens.
De acordo com a McKinsey, para cada 100 homens promovidos a um cargo de gerente, apenas 79 mulheres receberam a mesma promoção. Esse não é apenas um problema de inclusão, mas afeta diretamente a estratégia das empresas.
Além de serem mais inclusivas, empresas com foco na promoção de mulheres tendem a ser mais lucrativas. O centro de pesquisas econômicas norte-americano Peterson Institute for International Economics concluiu em um estudo realizado com mais de 20 mil empresas de capital aberto, que o número de mulheres em cargos executivos se correlacionava com o aumento das taxas de receita e lucros.
De orientação sexual
Nos últimos anos, houve avanços importantes para a comunidade LGBTQIA+, mas é possível melhorar.
Na edição de 2019 da pesquisa Carreira dos Sonhos, uma das perguntas foi sobre discriminação no trabalho. Das pessoas que responderam, 29% dos jovens disseram que sim, que passaram por isso, sendo que 14% apontaram como motivo a orientação sexual.
Já em 2021, o questionário tinha a seguinte questão: “Você sente que pode ser você mesmo, expressar sua identidade e opiniões sem receio?”. Como resultado, apenas 33% de jovens, 31% da média gestão e 47% da alta liderança, que fazem parte da comunidade LGBTQIA+, concordaram com essa afirmação.
Entretanto, a pauta da diversidade nas empresas, quando falamos desse público, se estende muito além da comunidade LGBTQIA+. Um estudo realizado pelo Allegis Group descobriu que 72% dos profissionais que buscam recolocação no mercado de trabalho preferem trabalhar em um emprego que respeite e acolha a comunidade. Já lugares menos inclusivos são vistos com maus olhos por quem se candidata às vagas.
De idade
Pessoas de idade mais avançada também estão gradativamente perdendo espaço nas empresas.
E ainda existe outro cenário a se considerar. Com o aumento da expectativa de vida da população, a aposentadoria também tem sido mais tardia.
Por outro lado, em alguns setores (em especial, o de tecnologia), a juventude ainda é um sinônimo para inovação. Afinal, é mais fácil que nativos digitais tenham conhecimentos mais aprofundados nesses assuntos.
O resultado dessa falta de diversidade nas empresas, conforme mostra um levantamento feito pela plataforma de seleção Indeed, é que uma espécie de “ditadura da idade” está se formando. Cerca de 43% dos trabalhadores norte-americanos do setor de tecnologia temem perder seus empregos por conta da idade.
Assim, mais um ponto entra na discussão: as pessoas que possuem uma bagagem cultural mais complexa e rica. Logo, seria produtivo para as corporações excluí-las? Isso não representa uma perda de capacidade de inovação e, consequentemente, de lucros?
Como adotar políticas de diversidade nas empresas
Para as grandes empresas, a solução é: planejamento e estratégia. No case do Junho das Minas, evento promovido pela Cia de Talentos, estão listados seis passos que podem ser tomados para elaborar uma estratégia de diversidade nas empresas. São eles:
- Mensurar e mapear o número de minorias representativas e acompanhar a evolução delas na empresa, sobretudo a chegada aos cargos de liderança;
- Conduzir treinamentos sobre diversidade e responsabilizar todas as pessoas na construção de um ambiente de trabalho que valoriza e potencializa seus resultados;
- Manter um Comitê de Diversidade para impulsionar e disseminar práticas conscientes entre profissionais dos times, comunidades, clientes e quem participa dos processos seletivos;
- Estabelecer diálogo e proximidade com entidades e lideranças que representem minorias representativas para apoiá-las, oferecendo recursos e soluções que fortaleçam seus propósitos e resultados. Ex: Programas de mentorias, desenvolvimento etc.
- Estabelecer metas específicas de longo prazo para aumentar a presença de mulheres em todos os níveis da empresa;
- Adotar ações afirmativas.
Entretanto, apenas criar um projeto não é o suficiente. É necessário medir e acompanhar os resultados. Afinal, implementar uma política de contratação de profissionais negros e negras, por exemplo, de nada vale se a empresa não for capaz de se certificar que a iniciativa está sendo positiva.
Por fim, todo esse esse planejamento irá render seus frutos. Conforme falamos, um ambiente mais plural é mais propício para a inovação – e isso é sinônimo de resultados.
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